Saiba como os produtores de vinho da região Sul do Brasil estão lidando com o distanciamento social causado pela COVID-19
Tempos de crise trazem a oportunidade de analisar o comportamento do consumidor e entender as suas reações diante de instabilidades políticas, sociais e econômicas. Algumas mudanças de atitude são previsíveis; por exemplo, o recém-lançado relatório Brazil Wine Landscapes 2020 indica que, com o Coronavírus, a maioria dos consumidores brasileiros está preocupada com as finanças e pretende priorizar as economias após a quarentena. Outras são mais surpreendentes: segundo dados da Wine Intelligence, quando confrontados com uma crise nacional ou comunitária, os consumidores tendem a voltar-se para o local – valorizando bens, produtos e serviços que possam ajudar o seu país e região a se reerguerem.
Com foco nesta última perspectiva, o Blog da Winext dá início à série Direto da Fonte: reportagens com a participação de importantes lideranças da indústria nacional do vinho – enólogos e gestores de vinícolas brasileiras – que falarão sobre o mercado da bebida, as tendências do setor e o enfrentamento da crise econômica gerada pelo Coronavírus.
Neste primeiro artigo, o correspondente da Winext na região Sul, Júlio Gostisa, entrevistou os representantes de 7 vinícolas – produtores de pequeno e médio porte com vinhos de alta qualidade – para saber como estão lidando com a pandemia e quais as perspectivas para o período pós-quarentena. No Vale dos Vinhedos, conversamos com a Pizzato Vinhas e Vinhos, a Cristofoli Vinhos de Família e os Vinhedos Capoani; na Campanha Gaúcha, contamos com a participação da Batalha Vinhas & Vinhos, a Campos de Cima e a Estância Paraizo; e no Planalto Catarinense, falamos com a Vinícola Pericó.
Vale dos Vinhedos – RS
Pizzato Vinhas e Vinhos por Flavio Pizzato, diretor e enólogo-chefe
Com atendimento ao público fechado por causa do decreto municipal na metade de março, a Pizzato foi obrigada a se reinventar da noite para o dia. Apesar da pandemia, a colheita tinha que seguir. Para isso, Flavio Pizzato afirma que a vinícola tomou uma série de cuidados de higiene junto aos funcionários, enviando os colaboradores dentro do grupo de risco para casa, enquanto o restante da equipe seguiu trabalhando com muita cautela. Além disso, a vinícola buscou alternativas para manter a operação de vendas: “reforçamos nossa equipe de atendimento “digital” e redobramos atenção nas entregas”, conta Flavio.
No início de maio, o varejo retomou suas atividades, mas com uma série de restrições. Diante da escalada do Dólar, Flavio analisa que o vinho brasileiro pode ganhar competitividade frente aos importados. Porém, ele ressalta que a indústria nacional também depende de insumos importados e, portanto, dolarizados – como rolhas, garrafas e leveduras. “Nossa escala nacional é muito pequena, somos minúsculos compradores e dependemos do mercado internacional”, afirma ele.
Planejando-se para o pós-pandemia, a Pizzato está oferecendo suporte ao trade parceiro e expandindo a área de armazenamento e movimentação para os seus espumantes. “Lançaremos em breve um espumante de maturação longa”, anuncia Flavio.
Cristofoli Vinhos de Família por Bruna Cristofoli, diretora administrativa
Surpreendidos pela pandemia, a família Cristofoli teve que interromper todos os programas de enoturismo. “Nunca trabalhamos tanto como nestes últimos 40 dias e estamos revisando todo nosso planejamento estratégico para 2020, mas confiantes que teremos bons resultados ao final do ano”, comenta Bruna Cristofoli. No início de maio, ela já recebia o contato de pessoas interessadas em participar das visitas guiadas, que devem recomeçar aos poucos.
Durante o isolamento, a empresa segue em pleno funcionamento e atende aos seus parceiros e clientes com promoções criativas de delivery. “Tivemos uma excelente safra neste ano e estamos encarando de forma otimista e realista os próximos meses”, afirma Bruna. “Torcemos pela retomada do enoturismo em breve e, em junho, faremos o lançamento de um novo espumante elaborado pelo método tradicional”, finaliza.
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Vinhedos Capoani por João Floriano, administrador geral
No dia 19 de março, em plena colheita nos seus vinhedos de Tannat, a vinícola Capoani viu-se obrigada a fechar a sua operação de varejo e interromper o atendimento ao público. Logo em seguida, uma série de cuidados e procedimentos de higiene foram implementados para, aos poucos, reiniciar as atividades. A Capoani também reforçou o atendimento pelo canal digital e já nota um aumento nas buscas por informações e preços de todos os produtos de linha na sua loja virtual.
No entanto, como conta João Floriano, a retomada das visitas está sendo lenta: “acreditamos que teremos, depois de passada esta fase de pandemia um aumento no turismo local”, comenta ele. E completa: “os consumidores devem buscar viagens curtas e deslocamento terrestre num primeiro momento”.
Na avaliação de João, a safra de 2020 proporcionou excelentes níveis de qualidade e a vinícola terá uma série de cinco novos lançamentos ainda este ano ainda.
Campanha Gaúcha – RS
Batalha Vinhas & Vinhos por Gilberto Pozzan e Giovâni Peres, sócios-proprietários
Com o início das medidas de distanciamento social entre os dias 18 e 28 de março, a Batalha Vinhas & Vinhos teve que interromper sua operação pelo varejo, seu mais importante canal de vendas. Neste período, a empresa focou a comercialização pelo canal digital, conseguindo evitar uma queda nas vendas. “O período de confinamento é particularmente desafiador para as empresas do nosso porte, que precisam se movimentar mais do que as grandes vinícolas na divulgação dos produtos”, conta Gilberto Pozzan.
Além do varejo, a interrupção do enoturismo também impactou os produtores de pequeno e médio porte, cujo modelo de negócio atende a um público interessado em uma experiência mais íntima com a vinícola e o vinho. Como explica Giovâni Peres, “nossa empresa foi desenhada para atender ao visitante que quer nos conhecer pessoalmente”. E complementa: “são clientes que desejam entender nossa filosofia de trabalho e provar nossos vinhos”.
Gilberto e Giovâni mostram-se confiantes para o período pós-pandemia, quando planejam lançar a linha Ideologia no formato bag-in-box, além de um novo vinho de Cabernet Franc. No enoturismo, a empresa prepara-se também para retomar as visitas com força total, recebendo clientes ávidos por sair de casa e viver novas experiências com o vinho.
Campos de Cima por Pedro Candelária, diretor comercial
Localizada em Itaqui, a Vinícola Campos de Cima foi obrigada a fechar a loja para vendas diretas ao público no dia 16 de março por decreto municipal. “Fomos todos pegos completamente de surpresa e em plena fase final de colheita”, conta Pedro Candelária. “Mas no início de maio retomamos o funcionamento e estamos nos acostumando aos novos tempos”, completa ele.
No novo contexto, a empresa aumentou o foco nas redes sociais e intensificou o diálogo com os parceiros lojistas em todo o estado. Como resultado, Pedro conta que o canal de vendas online teve uma movimentação acima do normal em todas as categorias de vinho – tanto de entrada como nas linha premium.
Planejando-se para o fim da pandemia, a vinícola está otimista, principalmente por conta da excelente qualidade da colheita das uvas em 2020. Ainda em maio, a empresa espera poder retomar as visitações e avalia o lançamento de novos vinhos para este ano.
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Estância Paraizo por Victoria Zara Mercio, sócia-proprietária
Localizada próxima a Bagé, uma das cidades com o maior número de contaminações pela COVID-19 no Rio Grande do Sul, a vinícola Estância Paraizo viu-se obrigada a encerrar todas as suas atividades de atendimento ao público a partir do dia 16 março. “Adotamos uma séria de medidas sanitárias de prevenção e cuidados com nossos colaboradores e seguimos todas as regras de segurança da OMS de forma imediata,” conta Victoria Zara Mercio.
Diferentemente de muitas empresas do setor, Victoria conta que modelo de comunicação e atendimento da empresa já era focado nos meios digitais, o que facilitou a adaptação ao período de isolamento. Para as atividades presencias, a pequena vinícola boutique espera voltar a receber o público por volta do mês de setembro.
Ainda em maio, Victoria promete o lançamento de seu vinho tinto premium Camilo Primeiro, elaborado a partir dos seus próprios vinhedos de Syrah. “Inovar em plena pandemia e sempre analisar os fatos, esse é o nosso lema”, comenta ela.
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Planalto Catarinense – SC
Vinícola Pericó por Rodrigo Colognese, gerente de produção
Mesmo sem nenhum caso de Covid19 encontrado em São Joaquim, a Vinícola Pericó teve que interromper as visitas de enoturismo por mais de um mês. No entanto, como conta Rodrigo Colognese, as atividades da vinícola não pararam: “nunca o e-commerce se tornou tão essencial para nossa empresa”. Dentre os produtos mais vendidos durante o isolamento, estão o novo lançamento de vinho rosé em garrafa com rolha de vidro, além de um espumante de fermentação sur lie.
Otimista, Rodrigo comenta que a Pericó tenta encarar a crise como uma oportunidade de aprendizado. Ele conta que, há alguns anos, a empresa foi adquirida por um grupo de novos investidores, que apostaram em um novo conceito de vinícola muito mais focado no enoturismo. Como exemplo, Rodrigo cita que uma das principais inovações foi a construção de um moderno winebar dentro do varejo, para melhorar a experiência dos visitantes. Ainda em maio, a Pericó prepara-se para uma retomada no atendimento aos seus visitantes, que poderão desfrutar dos novos serviços.
Não perca no próximo artigo da série Winext Direto da Fonte um perfil da nova geração de produtores brasileiros: quem são, o que pensam e o que estão fazendo para construir uma cultura do vinho no Brasil.
Sobre Julio Gostisa: Diretor comercial da Vinícola Routhier & Darricarrere de Rosário do Sul (RS), Julio é o mais novo colaborador da Winext no Sul do Brasil e trará informações diretas da fonte sobre a maior região produtora de vinhos nacionais.
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Foto de capa: Arnold Leow on Unsplash