Confira os temas mais importantes que pautarão o mercado de vinhos nos próximos anos.
Nesta edição do blog da Winext nos debruçamos sobre as grandes transformações que acompanham o mercado de vinhos nos últimos tempos e devem seguir em voga pelos próximos anos. Em um cenário de tamanha volatilidade e incerteza, calibrar o olhar para um horizonte mais longo mirando as mudanças mais estruturais pode ser uma estratégia valiosa.
Das mudanças do clima à moderação do consumo, passando pelo ambiente regulatório e pelo posicionamento do Brasil no cenário global, estes assuntos devem estar na agenda de todo o profissional atento às transformações de um mercado cada vez mais dinâmico e exigente.
Calibre a luneta e confira abaixo os 5 temas para ficar de olho neste ano e além.
#1 - Moderação do consumo
Não é de hoje que a moderação do consumo de álcool vem ganhando protagonismo mundo afora. Movimentos como o Dry January, Sober October, entre outros ganham força a cada ano, principalmente entre os mais jovens e tendem a se fortalecer com a maior conscientização da saúde e a busca por uma vida equilibrada do pós-pandemia. De acordo com a revista Time, 15% dos adultos americanos assumiram aderir ao Dry January em 2023, o que corresponde a um contingente de 39 milhões de bebedores a menos em um mês, o equivalente à população do Canadá.
A conscientização do consumo também atinge os profissionais do vinho. Quem imaginaria que a reflexão sobre sommeliers que se mantêm abstêmios estaria em discussão poucos anos atrás? Pois este assunto foi tema da revista americana Wine Enthusiast deste mês.
A chegada de uma nova onda de medicamentos de controle de obesidade afetará o apetite e a sede de uma classe abastada que sempre impulsionou o consumo de tintos e brancos - porções menores e mocktails (coquetéis sem álcool) seguirão crescendo no cardápio dos restaurantes.
#2 - Ambiente regulatório mais restritivo às bebidas alcoólicas
As mudanças de hábitos dos consumidores veio acompanhada pelo endurecimento das leis relacionadas ao consumo de álcool em vários países. Em 2023 entrou em vigor na Irlanda uma nova lei que exige que as bebidas alcoólicas sejam rotuladas com advertências à saúde. No ano passado, a Inglaterra implementou o maior aumento de impostos dos últimos 50 anos que afetou especialmente os preços dos vinhos de maior graduação alcoólica. E este ano os consumidores europeus poderão acessar informações nutricionais nos contra-rótulos dos vinhos e espumantes.
Como se não bastassem leis mais duras para o consumo, no início de 2023 a Organização Mundial da Saúde emitiu o um comunicado afirmando que “nenhum nível de consumo de álcool está livre de risco” contrariando a posição de parte da comunidade científica de que o consumo moderado pode ser benéfico. O desafio é que a pesquisa sobre vinho e saúde é extremamente enviesada e complexa, e não se traduz facilmente em mensagens midiáticas. O caminho da moderação parece ser a melhor alternativa.
Há toda uma discussão em curso de como o vinho deve se posicionar diante deste cenário e parece que estamos perdendo a oportunidade de fortalecer as associações históricas, sociais e culturais tão caras à bebida. Algumas ações práticas também podem ajudar a estimular o consumo responsável como, por exemplo, incentivar as pessoas a se hidratarem enquanto bebem, fortalecer a associação do vinho à refeição e disponibilizar cuspidores em salas de degustação. Movimentos coletivos como o Wine in Moderation deveriam atingir mais pessoas e estar no centro da agenda .
#3 - Impacto das mudanças climáticas na produção
As alterações do clima já são uma realidade e os impactos para a produção de vinhos não devem ser menores. Dados preliminares da OIV apontam para a menor produção dos últimos 60 anos em 2023 com queda na safra de grandes produtores como Itália, Espanha, Austrália e Chile e uma redução de cerca de 7% em relação ao volume de produção de 2022.
O efeito direto é o aumento no custo de produção e o reflexo no preço final só não é maior devido a queda do consumo global. Além disso, as mudanças o clima provocam o deslocamento de várias regiões produtoras com novos sítios surgindo e muitas existentes tendo que se adaptar introduzindo novas tecnologias e variedades mais resistentes.
A austeridade climática também prejudica a transição para uma viticultura mais sustentável com menor uso de pesticidas. Produtores reclamam dos altos custos de produção, além do baixo reconhecimento dos consumidores que não se dispõe a gastar mais por vinhos sustentáveis. As inscrições de produtores no programa de sustentabilidade da entidade francesa Haute Valeur Environmentale (HVE) vem diminuindo de ritmo e cresceram apenas 3% em 2023 versus 23% no mesmo período do ano anterior.
#4 - Enoturismo em alta e expansão de regiões produtoras no Brasil
O crescimento do enoturismo foi um dos frutos deixados pela pandemia no Brasil e no mundo. Estimativas da Euromonitor apontam para uma expansão do segmento de viagens e turismo de 16% em 2024, bem acima do crescimento projetado para a economia global de 2.7%.
Um novo estudo da empresa de turismo de luxo Virtuoso aponta para a mesma direção e detectou aumento de 70% na busca por experiências de viagem envolvendo enogastronomia, com interesse particular por experiências culturais, imersivas, autênticas e super locais.
No caso brasileiro, a expansão do turismo de experiência coincidiu com a expansão de regiões produtoras de vinhos finos de qualidade próximas a grande centros urbanos. Seja no interior paulista, mineiro, baiano, nas serras catarinenses, ou no cerrado este é um movimento que pode se somar ao sucesso do enoturismo gaúcho e ajudar na conquista de novos apreciadores da bebida e na disseminação da cultura do vinho pelo país.
#5 Mercado brasileiro: um porto seguro em meio a tempestade
Em meio a um cenário global de guerras, dificuldades logísticas, aumento de custos de produção e diminuição do consumo, o Brasil se apresenta como um porto relativamente seguro na tormenta. Possui a quinta maior população adulta do mundo (170 milhões habitantes com mais de 18 anos), a nona economia (USD2.13 trilhões) e ocupa apenas a décima sexta posição no ranking global de consumo de vinho (3.6 milhões hectolitros). Isto nos dá a dimensão do espaço para crescimento da bebida por aqui.
Mais do que isso, o país teve expansão relativamente estável quando comparado aos grandes emergentes populosos do mundo. Como comparação, a China perdeu 4% de participação no consumo global de vinho nos últimos 6 anos, enquanto o Brasil avançou 0.5% no mesmo período (2016-22. Dados da OIV).
O país encerrará o ano de 2023 como o principal mercado para as exportações chilenas tanto em volume quanto em valor. Mesmo em um ano difícil com retração de cerca de 9% em relação a 2022, a exportação para o Brasil foi a que menos caiu para os vizinhos andinos.
Apesar do cenário de incerteza global e dos desafios internos que enfrenta, o mercado brasileiro ainda mantém fundamentos sólidos que sustentam a continuidade da expansão dos tintos, brancos e espumantes.
Para saber mais:
The origins of Dry January - Revista Time, jan 24
Wine and Health: Challenging the 'No Safe Level' Claims - Meininger’s Wine Business International, out 23
No alcohol consumption is safe for your health - World Health Organization, jan 23
Les vignerons bio dans la tourmente - Vitisphere, dez 23
Top Trends for Travel in 2024 - Euromonitor, dez 23
The State of the wine industry report 2022 - OIV, apr 23
Can a sommelier be sober? - Wine Enthusiast, jan 24
Seven wine trends in 2024 - Meininger’s Wine Business International, jan 24
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