Fique por dentro das cinco principais tendências que devem impactar os negócios do vinho no Brasil e no mundo em 2020
Janeiro de 2020 chega ao fim, com a divulgação de diversas tendências e previsões para o ano nos principais sites e publicações sobre negócios do vinho. Uma análise cuidadosa destes exercícios de futurologia mostrará que a maioria – se não todos – está longe de ser uma novidade. Por exemplo, no início de 2019, mencionamos a moderação alcóolica, o déficit no conhecimento de vinhos entre os consumidores e o veganismo como variantes impactantes para os negócios naquele ano. Fato é que essas são tendências relevantes no mundo do vinho há pelo menos cinco anos.
No entanto, é importante ressaltar que estas tendências não são estáveis: elas evoluem ao longo do tempo, tornando-se dominantes no mercado, ou acomodando-se em um nicho menos visível. Reavaliações atualizadas com as novas pesquisas se fazem necessárias para entender o rumo que elas seguem. Por isso, todo ano a Wine Intelligence divulga as suas previsões para o mercado global de vinhos, abordando as principais tendências de longo-prazo do setor com as seguintes questões: o que é que os dados mais recentes nos dizem a respeito delas? E como essa informação poderá afetar os negócios do vinho nos próximos 12 meses?
No novo artigo do Blog Winext, fique por dentro das cinco principais tendências que devem impactar o mercado global de vinhos em 2020, com base nos mais recentes dados da Wine Intelligence, divulgados em janeiro no relatório Global Trends in Wine. Saiba também até que ponto cada uma delas pode afetar o mercado de vinhos no Brasil.
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1. O volume do consumo de vinho diminuirá em nível global
Assim como no ano passado, a Wine Intelligence prevê que os mercados desenvolvidos do vinho seguirão na onda da moderação alcóolica, o que não será compensado pelo aumento do consumo nos mercados emergentes. De fato, em 2019 o maior mercado de vinhos do mundo, EUA, sofreu retração no consumo da bebida pela primeira vez em 25 anos; na França, na Alemanha e no Reino Unido, o consumo da categoria cai pelo menos desde 2014, conforme o último relatório da OIV. Em alguns aspectos, esta é uma boa notícia para a categoria: enquanto bebem menos, os consumidores nos principais mercados têm optado por rótulos de maior valor, como demostra o contínuo aumento do preço médio pago por garrafa nos últimos anos.
Por outro lado, o avanço da tendência de moderação aliada com a “premiumnização” gera problemas para muitos produtores e marcas que investem na estratégia de alta escala com margens mínimas. Isto ocorre porque, como sempre sonharam os entusiastas da categoria, os consumidores estão começando a tratar o vinho como um produto aspiracional e cultural. Ou seja, o BBB – bom, bonito e barato – está cada vez menos atraente nos mercados maduros e a indústria do vinho precisará se atualizar com esta tendência.
Enquanto isso, o mercado brasileiro deve seguir na contramão da tendência da moderação alcoólica. Evidência disso é que a base nacional de consumo, de apenas aproximadamente 2 litros per capita/ano, está em expansão: em 2019, o mercado de importados cresceu quase 3% em volume na comparação com 2018 de acordo com dados da Ideal Consulting. Ao mesmo tempo, a indústria nacional da bebida está em fase de fortalecimento, com o setor de espumantes estimando um crescimento de 15% no faturamento de 2019. Finalmente, o acordo Mercosul-União Europeia fez com que o Brasil entrasse no radar dos produtores europeus, diante da perspectiva de uma competição mais igual com os sul-americanos. Tudo isso nos leva a crer que o mercado brasileiro de vinho deva continuar se expandindo em 2020.
2. Sustentabilidade e outras qualificações de responsabilidade serão avaliadas com mais rigor
Como saber se o vinho que você compra é de fato “sustentável”, “orgânico” ou “vegano”? Segundo dados da Wine Intelligence, a maioria dos consumidores opta por acreditar na descrição dos rótulos ou anúncios, sem qualquer questionamento. No entanto, a consultoria britânica também observa nos mercados desenvolvidos uma minoria crescente disposta a ir mais longe na verificação destas qualificações – geralmente por princípios ambientais, éticos, sociais ou de estilo de vida.
Em 2020, a Wine Intelligence espera que esta minoria se torne ainda mais cuidadosa e investigativa, aproveitando-se dos meios digitais para denunciar aquilo que considerarem uma transgressão. É de se esperar que estas críticas – justas ou não – alcancem a maioria de consumidores menos engajada, que poderá perder confiança numa marca específica ou, ainda, em todo o conceito de responsabilidade social, econômica e ambiental no vinho. Isto representa um verdadeiro desafio para as empresas que investem na imagem da responsabilidade, já que as regras do jogo não são nada claras: não existe nenhum consenso sobre o que define e exige um vinho “sustentável”, “orgânico”, “biodinâmico" ou "natural".
Ao mesmo tempo, a indústria do vinho começa a tratar a sustentabilidade não apenas como uma estratégia para agradar consumidores, mas como algo fundamental para a conservação dos seus terroirs, cujas vinhas são altamente suscetíveis à qualquer tipo de mudança no clima. Em fevereiro de 2019, duas tradicionais famílias do vinho – a espanhola Torres Family Wines e a americana Jackson Family Wines – se uniram para fundar a International Wineries for Climate Action (IWCA), um grupo cooperativo de vinícolas cujos integrantes buscarão reduzir as próprias emissões de carbono em 50% até 2030, e em 80% até 2045. Em janeiro deste ano, a organização anunciou a admissão dos seus quatro primeiros membros: a Spottswoode Winery (EUA), a Symington Family Estates (Portugal), a VSPT Wine Group (Chile e Argentina), e a Yealands Wine Group (Nova Zelândia). Podemos esperar para 2020 mais mobilização e debates no setor em torna das mudanças climáticas.
No caso brasileiro, o tema da sustentabilidade no vinho deve seguir como uma tendência pouco expressiva, que ainda se restringe a um nicho pequeno de consumidores. Segundo dados da Wine Intelligence, o nível de compreensão sobre os estilos SOLA (sustentáveis, orgânicos e de baixo teor alcóolico) é ainda mais baixo no Brasil do que nos mercados maduros – o que não significa que este não seja um segmento promissor no longo prazo.
3. Países produtores de menor destaque viverão renascimento: Alemanha, África do Sul, Portugal e Grécia
Apesar de todo o barulho e empolgação sobre novas regiões e variedades, a maioria dos consumidores mundo afora ainda bebe majoritariamente vinhos da França, Itália e Espanha, e opta por uvas familiares como Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc. Mesmo as mais recentes modas de consumo, como o rosé de Provence, o Prosecco italiano e o Sauvignon Blanc Neozelandês, passaram décadas (ou mesmo séculos) como estilos amplamente reconhecidos.
Dito isto, a Wine Intelligence prevê que 2020 será um ano de renascimento para alguns estilos tradicionais, que resgatarão o status de novidade diante dos novos consumidores. Os principais exemplos são o Riesling alemão, os brancos e blends tintos de África do Sul e Portugal, e os brancos leves da Grécia. Oportunidades também devem surgir para os rosés premium de fora da Provence, onde a oferta não consegue acompanhar a crescente demanda global pelo estilo. Vale mencionar também a categoria dos espumantes, que deixou de ser consumida apenas em ocasiões especiais e cresceu em torno de 30% (em volume e valor) no mercado global entre 2014 e 2018, de acordo com a OIV. Na avaliação da Wine Intelligence, o potencial destes estilos se explica pela crescente procura por brancos aromáticos, frescos e com baixo teor alcoólico e por tintos interessantes, com menos taninos.
No mercado brasileiro, a tendência parece mais favorável aos europeus – principalmente Portugal, Espanha e Itália – impulsionados pelos subsídios governamentais para a promoção das exportações, além da perspectiva de uma concorrência mais igual com os sul-americanos após o acordo comercial Mercosul-EU. Para alguns produtores de Portugal, cuja performance no mercado brasileiro desapontou em 2019 ao ficar atrás da Argentina no ranking de vinhos importados (em volume), anunciaram no início deste ano que pretendem desbancar os líderes chilenos até o final da década. Não podemos deixar de citar também o espumante nacional, que segundo o relatório Brazil Landscapes 2019, da Wine Intelligence, já está entre as cinco bebidas alcoólicas mais lembradas pelo consumidor regular de vinhos no país e que, ao que tudo indica, deve seguir em expansão em 2020.
4. Mais negócios investirão em novos formatos de embalagem e serviço visualmente atrativos
A inovação tecnológica está avançando na indústria do vinho e uma das áreas mais promissoras são os formatos de embalagem e serviço. Segundo a Wine Intelligence, em 2020 estas transformações devem se intensificar, impulsionadas pela necessidade de redução do impacto ambiental da indústria, além da adaptação às necessidades de uma nova geração de consumidores que busca menos volume e mais valor nas embalagens.
Atentos a esta demanda, os melhores gestores de marca dobrarão o investimento em rotulagem e design, buscando modelos que equilibrem o delicado balanço entre distinção e confiabilidade na categoria de vinhos. Este ano, a Wine Intelligence espera que as marcas invistam em garrafas, rótulos, desenhos e cores mais criativos – projetados para atrair a atenção de consumidores que têm pouco tempo e são orientados ao visual, mas sem perder a estética clássica que transmite segurança na compra.
Podemos esperar novidades como embalagens reutilizáveis, de refil, garrafas plásticas recicláveis, rolhas com emissão zero de carbono, além dos já consolidados vinhos em lata – segmento que deve ultrapassar os 4,5 bilhões de dólares nos Estados Unidos até 2025. No design de rótulos, as marcas devem continuar investindo na realidade aumentada, em que o consumidor poderá assistir uma animação surgir da garrafa ao apontar o celular para o rótulo.
No Brasil, a inovação nas embalagens e formatos de serviço é definitivamente uma tendência promissora para 2020. Evidência deste potencial foi o sucesso dos vinhos em lata no ano passado no nosso mercado (leia mais no artigo Revisitando as 5 previsões para o mercado de vinhos em 2019). No entanto, vale ressaltar que o consumidor médio brasileiro é bastante tradicional no contexto do vinho, o que torna ainda mais importante o equilíbrio entre inovação e confiabilidade – principalmente nas categorias dos vinhos de valor mais elevado.
5. Mercados consumidores emergentes serão vistos como grandes oportunidades de negócios para o vinho
Enquanto a ameaça do protecionismo paira sobre as principais economias desenvolvidas, os mercados emergentes devem seguir se consolidando em 2020 como as principais oportunidades de negócios para o vinho no mundo. Segundo estudo da Wine Intelligence, profissionais da indústria já consideram a China como o mercado de vinho mais atraente do mundo. Enquanto isso, Reino Unido, Alemanha, Itália e França são citados como os de menor potencial de crescimento.
Além do gigante asiático, Índia, Brasil, Nigéria e México também são citados na pesquisa como grandes potenciais para negócios do vinho nos próximos anos. Estes mercados reúnem algumas características importantes em comum: consumo per capita relativamente baixo, mas com uma grande população jovem e uma base de consumidores da bebida em expansão nos últimos anos. Segundo dados da OIV, o consumo de vinho no México cresceu quase 30% em volume entre 2014 e 2018. Na China, apesar do aumento moderado de 1,3% no volume de consumo, as importações de vinho subiram impressionantes 79% no mesmo período.
Esta tendência vem se mostrando bastante clara no Brasil, onde o mercado de vinhos seguiu em crescimento no ano passado apesar da lenta recuperação da economia, e onde a base de consumidores regulares da bebida passou de 22 milhões para mais de 32 milhões de adultos na última década. Sinalizando a confiança dos investidores no mercado brasileiro, a Messe Düsseldorf tornou-se sócia majoritária da Provino e anunciou para outubro de 2020 a chegada oficial a São Paulo da ProWine – maior feira de vinhos do mundo. A empresa alemã, que já promove a feira em Düsseldorf, Shanghai, Hong Kong e Singapura, pretende transformar a edição brasileira no principal hub de negócios do vinho na América Latina, com foco nas vinícolas de Chile, Argentina, Peru e México. Produtores de Portugal, Espanha, França e Alemanha também estarão representados no evento.
Com um olhar atento às transformações que se configuram no horizonte e os pés fincados no presente, as empresas do vinho devem se preparar para um futuro tão promissor quanto desafiante. Preparem suas taças!
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Texto adaptado do artigo The Reflective Twenties da Wine Intelligence.
Saiba mais sobre o relatório Global Trends in Wine 2020.
Veja último relatório da OIV.
Leia sobre a ProWine no Brasil.
Leia sobre a IWCA.
Foto de capa: Biljana Martinic on Unsplash