Enquanto a temporada de verão e rosés a beira da piscina chega ao fim no hemisfério Norte, Devon Broglie, master sommelier e comprador da rede Whole Foods, aponta as principais tendências que estão mudando o cenário do vinho na América.
Broglie faz parte do seleto grupo de 230 master sommeliers no mundo e o único a ocupar a cadeira de comprador de uma rede de supermercados de alcance nacional. O filme Somm retrata bem a saga para se tornar um master sommelier (se você ainda não conferiu, está no Netflix).
E quais são essas tendências?
#1 - Vinho em lata
As vendas de vinho em lata nos EUA mais do que dobraram no último ano, alcançando a cifra de USD 6.4 milhões. Segundo Broglie, "Faz todo o sentido. Facilidade, preço acessível, reciclável e a convenIência para servir - tudo isso contribui. Cada vez mais, as pessoas buscam menos aparatos para tomar um vinho."
Lembro aqui da importância de encontrarmos alternativas para reduzir as barreiras para o consumo do vinho. A primeira delas é justamente a necessidade de ter um saca-rolhas em mãos. Para quem tem mais envolvimento com o assunto pode ser algo banal, mas o fato da exigência de um aparato para abrir a garrafa certamente inibe a compra por impulso principalmente nos supermercados. Nunca vi uma pesquisa sobre o assunto, mas presumo que os índices de "abandono do carrinho" por esse motivo sejam altos.
Os outros dois maiores obstáculos, na minha opinião, são a temperatura de serviço (é consenso de que um vinho na temperatura certa faz toda a diferença) e a necessidade de taça (não precisa ser uma Riedel de cristal, mas um recipiente adequado melhora a percepção do gosto).
Tratei do vinho em lata, de embalagens alternativas e da importância de eliminarmos as barreiras de consumo nos seminários no último Fórum Expovinis 2016. Aqui o link para a apresentação.
# 2 - Tintos leves servidos frescos
"Esta é uma excelente alternativa aos rosés do verão, e durante o período entre as estações quando a temperatura está mais amena e o frio ainda não chegou. Ao invés de tintos alcoólicos e encorpados, as melhores opções para resfriar são os leves e de maior acidez", segundo Broglie. E no nosso caso, diria que é uma boa pedida para todo o ano. Aqui vale desde um beaujolais jovem a um pinot noir de entrada despretensioso.
Quantas pessoas não deixam de tomar um vinho por não estarem a fim de um tinto potente em um dia calor? Sejamos inventivos ao propor novas formas de consumo.
# 3 - Espumantes
A popularidade dos moscatos e proseccos cresce a cada ano na América, passando pelas categorias menos populares como a cava ao consagrado champanhe.
"Espumantes do mundo todo estão em alta. As pessoas estão mudando a crença de que é uma bebida apenas para ocasiões especiais e consomem borbulhas como aperitivo ou em ocasiões diversas", aponta Broglie.
Em outras palavras, o espumante não serve apenas para grandes eventos. Ele pode ser um agrado para o dia-a-dia. Além da versatilidade da bebida, destaco aqui nossa aptidão de produzir borbulhas de classe mundial e com grande consistência. Ele deve atuar como abre-alas para o crescimento de toda a categoria.
# 4 - Consumidores exploradores
"Os consumidores estão sedentos por informação", segundo Broglie. Acrescentaria que esse é um traço marcante nos consumidores brasileiros. Sempre que pergunto nas vinícolas pelo mundo a fora sobre o perfil do visitante do Brasil, a primeira palavra que surge é "curioso".
E graças à Internet e aos smartphones a informação está cada vez mais a mão. E com isso, os consumidores se sentem mais seguros para experimentar. Essa é uma grande oportunidade para categorias menos conhecidas e propostas que fujam do tradicional. Broglie cita o exemplo da campanha em curso na Whole Foods dos "vinhos do Chile" que destaca produtores menos conhecidos e regiões emergentes do país andino.
Com um bom trabalho de categoria podemos convidar o consumidor a explorar novas regiões e propostas diferentes. Que tal começar agora?
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Nota: O artigo acima foi adaptado da matéria publicada na revista Business Insider "The 4 biggest wine trends now" por Kate Taylor (aqui na íntegra).
Foto: Karina Carvalho | Unsplash