Enoturismo e a nova safra de produtores de vinhos brasileiros

Conheça o perfil de 6 produtores de vinhos brasileiros que apostam na inovação e no enoturismo para impulsionar os negócios

Com todos o seus desafios, o ano de 2020 trouxe também um cenário de oportunidades para o vinho nacional. No Sul, as vinícolas celebram uma das melhores safras da história do país, em que o verão seco permitiu uvas saudáveis e perfeitamente amadurecidas. Do lado econômico, a situação cambial é favorável à competitividade dos vinhos brasileiros, já que a valorização do Dólar acima dos cinco reais prejudicou a relação preço-qualidade dos importados. Por fim, a desaceleração do turismo internacional por conta do Coronavírus criou a expectativa de que o enoturismo brasileiro ganhe novo fôlego após a quarentena.

Uma nova geração de pequenos produtores brasileiros acompanha as inovações do velho e do novo mundo para trazer novas experiências da vanguarda do vinho.

É neste cenário que os produtores brasileiros de vinho traçam seus planos para retomar o ritmo das atividades uma vez superada a pandemia. A oportunidade chega após duas décadas de significativa evolução para a vitivinicultura nacional, principalmente com a conversão de vinhedos para o sistema de condução em espaldeira, que otimiza o aproveitamento da luz solar e a drenagem dos solos. Mas não é tudo: uma nova geração de produtores acompanha as inovações do velho e do novo mundo para trazer novas experiências da vanguarda do vinho para o Brasil. Além da modernização dos métodos de viticultura e vinificação, estes empreendedores observaram o papel fundamental do enoturismo no sucesso de vinícolas internacionais e apostam na estratégia para construir negócios sustentáveis.

Na segunda reportagem da Série Winext Direto da Fonte, apresentamos o perfil de seis representantes da nova geração de produtores de vinhos brasileiros, que nas recentes décadas fundaram vinícolas com um pé na herança familiar e o outro na inovação. Direto da Serra Gaúcha, trazemos a experiência das vinícolas Jolimont, Don Guerino e Família Bebber. Fomos também à Campanha Gaúcha para compartilhar as iniciativas da premiada Guatambu. E finalmente, na Serra Catarinense, apresentamos as novidades de duas vinícolas de altitude, a Leone di Venezia e a Villaggio Conti.

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Vinícola Jolimont: vocação para o enoturismo em Canela, RS

Em 1948, o francês Jacques Brière fundou em Canela, na Serra Gaúcha, a vinícola que mais tarde passaria a se chamar Jolimont. O atual proprietário, Marçal Duarte Velho, é advogado e contador, além de um apaixonado pelo mundo dos vinhos. Seu pai adquiriu a empresa em 1987, quando a então Vinícola Brière já tinha relativo reconhecimento no mercado, mas necessitava de melhorias em termos de marca e posicionamento.

Era uma mistura de sonho com pragmatismo, pois sabíamos que precisávamos ter uma estratégia definida de crescimento e posicionamento para os nossos produtos.

Marçal comenta que a compra de uma vinícola era uma mistura de sonho com pragmatismo: “sabíamos que precisávamos ter uma estratégia definida de crescimento e posicionamento para os nossos produtos”. Logo no início dos anos 90, a empresa tomou uma importante decisão estratégica e decidiu encerrar as vendas nas grandes lojas de varejo, para focar-se no enoturismo. Em 1994, estabelecem uma parceria com a CVC para alavancar estas atividades, que passaram a representar aproximadamente 60% das suas vendas.

Em 2005, a crescente concorrência fez com que a empresa aumentasse ainda mais os investimentos nas atividades de visita, passeios e degustação. Seguiram-se melhorias no website, com a inclusão de uma loja virtual, e a implementação do serviço de televendas, incluindo a criação de um sistema de cadastro ativo de clientes. Além disso, novos produtos foram acrescentados ao portfólio: dois tipos de cerveja, um espumante moscatel, suco de uva e outras bebidas. Estas inovações se somaram aos 30 produtos existentes na loja, que mesmo com a pandemia representa 90% das vendas da empresa.

O Cabernet Sauvignon Récolte é elaborado a partir de uvas desidratadas e, segundo Marçal, representa a evolução da Jolimont através dos anos (Crédito: Jolimont).

O Cabernet Sauvignon Récolte é elaborado a partir de uvas desidratadas e, segundo Marçal, representa a evolução da Jolimont através dos anos (Crédito: Jolimont).

Enoturismo na Jolimont: a vinícola promove atrações como o tour virtual, as visitas guiadas e as degustações de seus vinhos.

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Guatambu Estância do Vinho: modernidade na mais nova IP brasileira

Uvas viníferas foram agregadas a este moderno empreendimento familiar em 2003, quando a enóloga Gabriela Pötter consegui identificar os 20 melhores hectares para o plantio da variedade em Dom Pedrito, na Campanha Gaúcha. A Guatambu já produzia arroz, soja e outros grãos, além de criar bovinos de cortes das premiadas raças Hareford e Bradford.

O ano de 2012 marcou a inauguração de uma estrutura de cantina e recebimento de visitantes, em um estilo colonial hispânico. Nos anos seguintes, diversas novidades foram lançadas na área do enoturismo, bem como no portfólio da vinícola. Este ano, a Guatambu celebra um marco histórico para a a região vitivinícola onde se encontram, com a conquista da Indicação de Procedência (IP) para a Campanha Gaúcha no mês de maio.

Não há dúvidas de que a nova IP favorecerá num primeiro momento as vendas e o maior fluxo de pessoas para conhecer a região.

“Não há dúvidas de que a nova IP favorecerá num primeiro momento as vendas e o maior fluxo de pessoas para conhecer a região”, conta Valter Pötter, pai de Gabriela e atual presidente da Associação Vinhos da Campanha Gaúcha. No médio e longo prazo, Valter estima novos investimentos e o crescimento do setor vitivinícola como um todo, beneficiando também o turismo, a gastronomia, os serviços e o desenvolvimento geral da região.

Segundo Gabriela, o vinho que representa a essência da Guatambu é o Épico, combinação das melhores parcelas de Tannat, Cabernet Sauvignon, Merlot e Tempranillo de quatro safras distintas da vinícola (Crédito: Guatambu).

Segundo Gabriela, o vinho que representa a essência da Guatambu é o Épico, combinação das melhores parcelas de Tannat, Cabernet Sauvignon, Merlot e Tempranillo de quatro safras distintas da vinícola (Crédito: Guatambu).

Enoturismo na Guatambu: as atrações da Guatambu incluem o tour guiado, o piquenique nos jardins e o almoço harmonizado de terroir.

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Don Guerino: experiência internacional e inovação em Alto Feliz, RS

Conhecida hoje como uma das mais belas vinícolas do Rio Grande do Sul, a vinícola Don Guerino está localizada em Alto Feliz, na Serra Gaúcha. Trata-se de uma empresa familiar e empreendedora, que vive o mundo dos vinhos desde que Guerino Motter vendia a bebida a granel nos anos 1970. Como relata o neto de Guerino, Bruno Motter, a família aproveitou a chamada “revolução dos vinhos nacionais” dos anos 2000 e decidiu apostar na elaboração de vinhos finos, primeiro com a construção de uma moderna vinícola em 2007 e, em seguida, com ele próprio indo estudar enologia em Mendoza. A partir daí, o foco do negócio voltou-se para o enoturismo.

Toda a nossa família embarcou neste sonho de projeto, em que buscamos a expressão de nossa identidade como núcleo familiar e nosso amor pelo mundo dos vinhos.

“Toda a nossa família embarcou neste sonho de projeto, em que buscamos a expressão de nossa identidade como núcleo familiar e nosso amor pelo mundo dos vinhos”, afirma Bruno, que retornou formado de Mendoza em 2011 para assumir a posição de enólogo da Don Guerino. Com uma experiência internacional, ele conta que trouxe para a vinícola inspiração de bodegas como as argentinas Catena Zapata e Rutini, e a uruguaia Garzón. No Brasil, Bruno também acompanha de perto as inovações da Miolo e da Casa Valduga.

Seguindo a trilha da constante inovação, a família adquiriu novas ânforas de terracota, que já utilizarão para alguns vinhos da excepcional safra de 2020. “Tecnologia de produção é ponto sempre em voga, principalmente neste momento em que tudo está mudando a cada semana”, afirma Bruno. “Prensas pneumáticas inertes, filtros tangenciais, geradores de nitrogênio e, claro, um grande investimento em barricas novas de carvalho francês são alguns exemplos de investimentos”, conclui.

O Malbec Vintage da Don Guerino expressa a influência de Mendoza na formação do enólogo Bruno Motter, que retornou da Argentina em 2011 para desenvolver os vinhos da família (Crédito: Don Guerino).

O Malbec Vintage da Don Guerino expressa a influência de Mendoza na formação do enólogo Bruno Motter, que retornou da Argentina em 2011 para desenvolver os vinhos da família (Crédito: Don Guerino).

Enoturismo na Don Guerino: a vinícola oferece visitas guiadas, além de almoço harmonizado, degustações e um espaço lounge para happy hour.

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Família Bebber: novos players do vinho nacional em Flores da Cunha, RS

Um dos mais novos empreendimentos do vinho nacional, a vinícola Família Bebber foi fundada em janeiro de 2015 em Flores da Cunha, na Serra Gaúcha. Juntando a paixão de gerações pelo vinho, o enólogo Felipe Bebber uniu-se ao pai, Valter, e ao irmão, Rafael, para tornar este sonho familiar uma realidade. Em pouco tempo, a vinícola já se destacou com premiações na Grande Prova de Vinhos do Brasil.

Fomos pioneiros na compra e na utilização de uma nova forma de envelhecer vinhos finos que são os ovos de cimento franceses.

Felipe Bebber, que além de enólogo também é diretor-comercial da vinícola, comenta que um dos principais diferenciais da vinícola são inovações como novas tecnologias de vinificação. “Fomos pioneiros na compra e na utilização de uma nova forma de envelhecer vinhos finos que são os ovos de cimento franceses”, conta. “Trata-se de um tanque em formato ovalado que permite uma micro-oxigenação da bebida, favorecendo vinhos mais frutados e que irão durar por aproximadamente 20 anos”, explica o enólogo.

A vinícola também aposta no enoturismo como parte essencial do negócio. Em dezembro deste ano, irão inaugurar uma nova sede, com infraestrutura para receber visitantes e promover atividades como degustações guiadas. Os seguidores da Familia Bebber já poderão ter uma ideia do novo local e das novidades nas redes sociais da vinícola.

O vinho Bah, segundo Felipe, representa o anseio de jovialidade e o apelo moderno da Família Bebber, com um corte de Tannat e Touriga Nacional (Crédito: Família Bebber).

O vinho Bah, segundo Felipe, representa o anseio de jovialidade e o apelo moderno da Família Bebber, com um corte de Tannat e Touriga Nacional (Crédito: Família Bebber).

Enoturismo na Família Bebber: a vinícola deve iniciar as atividades de turismo em dezembro de 2020, quando abrirão o seu novo espaço para receber visitantes.

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Leone di Venezia: vinhos brasileiros com alma italiana em São Joaquim, SC

Instalados no município de São Joaquim, na Serra Catarinense, a vinícola Leone di Venezia foi projetada pelo engenheiro agrônomo Saul Bianco e a sua esposa, Alcinita. Neto de agricultores italianos produtores de grappa, Saul encerrou uma carreira de 32 anos numa grande empresa do Rio Grande do Sul para dedicar-se ao vinho. Em 2006, partiu para a região do Vêneto, ao norte da Itália, para estudar enologia.

Após se formar em 2007, Saul retornou ao Brasil e escolheu as altitudes do Planalto Catarinense para estabelecer a sua vinícola, adotando o símbolo da principal cidade do Vêneto, a bela Veneza. Iniciou com o cultivo de 26 variedades de uvas italianas, que foram sendo selecionadas com os anos de experimentação. Hoje são 11 castas, incluindo a Garganega, a Refosco, a Primitivo e o ícone italiano, a Sangiovese.

Importamos equipamentos direto da Itália e desenhamos o projeto da vinícola em conjunto com amigos italianos.

Além das uvas, Saul conta que a infraestrutura da Leone di Venezia também é italiana: “importamos equipamentos direto da Itália e desenhamos o projeto da vinícola em conjunto com amigos italianos”, relata. “Queríamos um projeto pequeno e prático”, acrescenta. Diante da pandemia, a vinícola aposta numa retomada do enoturismo até o final do ano, quando serão lançadas as novas safras de seus já premiados vinhos.

Saul surpreendeu-se com a qualidade dos vinhos da Montepulciano produzida nas altitudes de São Joaquim, que segundo ele se assemelham aos melhores vinhos de Abruzzo, região de origem da uva na Itália (Crédito: Leone di Venezia).

Saul surpreendeu-se com a qualidade dos vinhos da Montepulciano produzida nas altitudes de São Joaquim, que segundo ele se assemelham aos melhores vinhos de Abruzzo, região de origem da uva na Itália (Crédito: Leone di Venezia).

Enoturismo na Leone di Venezia: as atrações da vinícola incluem visita com degustação, piquenique e petiscos harmonizados.

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Villaggio Conti: italianos de altitude em São Joaquim, SC

Neto de imigrantes italianos, o engenheiro de alimentos Humberto Conti fundou junto com os filhos em 2009 a pequena vinícola Villaggio Conti em São Joaquim, na Serra Catarinense. O cultivo de castas italianas nas altitudes brasileiras, com o mínimo de intervenção, era um sonho antigo de Humberto: “desde a década de 80, quando estava na Unicamp, em São Paulo, era o meu plano de aposentadoria”, conta ele.

Para tirar o projeto do papel, Humberto contou com o apoio de diversos profissionais e empresas. Ele se orgulha do contato que teve com o produtor do Friuli, Josko Gravner, considerado o Papa dos vinhos laranjas, além de seguir de perto as inovações do celebrado enólogo do Piemonte, Angelo Gaja. Também estabeleceu pareceria com a Vinícola Pericó, vizinha de São Joaquim, com quem compartilhou estudos de solo. Finalmente, contou com a fundamental participação do seu enólogo residente, Henrique Demozzi, e dos filhos Enrico, Bruno e Luca.

Neste momento sugerimos que nossos clientes comprem dos pequenos produtores, comprem local e por isso estamos fortalecendo nosso contato com o consumidor final.

Entre as novidades, Humberto destaca que a Conti é a única vinícola fora da Itália a cultivar vinhedos de Pignolo, uma uva tinta da região de Friuli-Venezia Giulia. A casta dá origem ao seu principal vinho – que estará disponível no mercado após um período de maturação em garrafa. Além disso, apesar das dificuldades impostas pela pandemia, os planos de completar uma nova área de enoturismo até o final do ano seguem firmes e na planilha de custos da Villaggio Conti. “Neste momento sugerimos que nossos clientes comprem dos pequenos produtores, comprem local e por isso estamos fortalecendo nosso contato com o consumidor final e participando ativamente de nossas redes sociais”, conclui Humberto.

Única vinícola a cultivar a uva Pignolo fora da Itália, a Villaggio Conti deve lançar uma nova safra do vinho após o período de maturação em garrafa (Crédito: Villaggio Conti).

Única vinícola a cultivar a uva Pignolo fora da Itália, a Villaggio Conti deve lançar uma nova safra do vinho após o período de maturação em garrafa (Crédito: Villaggio Conti).

Enoturismo na Villaggio Conti: o início das atividades de turismo está planejado para o final do ano.

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Não perca no próximo artigo da série Winext Direto da Fonte, quando traremos mais novos cases e experiências que estão contribuindo com o desenvolvimento do vinho nacional.

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Foto de capa: Runze Shi on Unsplash

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