Aconteceu no final de Outubro no Memorial da América Latina mais uma edição do Semana Mesa SP. Em meio a tantas atividades para lá de exclusivas como uma vertical de 4 safras de Almaviva partindo de 1996, lançamento da nova safra do mítico Pêra Manca antes mesmo de Portugal, degustação de Riedel - a Ferrari das taças, rolou o Fórum Mesa Vinhos - série de debates sobre o universo em torno do vinho. Para quem não foi, destaco aqui alguns aprendizados dos debates que participei.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi justamente de como é difícil chamar a atenção dos profissionais do setor para temas tão pertinentes, mas que não envolvem necessariamente degustar o produto ou falar de assuntos técnicos ligados ao mesmo. Não se abriu uma garrafa por lá. No entanto os temas tratados têm uma influência enorme sobre o modo de consumir, ver e pensar o vinho. Afinal quem não quer saber o que se passa pela cabeça de profissionais que escolhem vinhos para uma audiência equivalente a 2 Maracanãs lotados TODO o mês? Ou, do que se trata exatamente essa história de vinhos orgânicos, naturais, biodinâmicos? Assuntos como esses, escolhidos a dedo por Marcel Miwa, desfilaram por lá para uma plateia reduzida de curiosos.
Vicente Jorge e Manu Brandão, winehunters que além de milhas acumulam muita experIência na difícil tarefa de selecionar vinhos para um dos maiores clubes do mundo, nos divertiram com suas histórias. Mas mais do que isso, nos mostraram que nem tudo são flores nesta profissão. Além de um enorme traquejo inter-cultural, a atividade requer dedicação integral e aprender a pensar com a cabeça do consumidor. Não se trata apenas de selecionar o que há de melhor, mas também de ir caminhando junto com o seu consumidor - que é chamado de sócio do clube. E ele, de fato, se sente parte integrante do negócio. Participa ativamente dando as suas impressões de cada vinho e garantindo um processo de aprendizado e melhoria contínua das seleções. Para mim uma das grandes chaves de sucesso desse negócio.
Outro assunto pouco discutido aqui pelos trópicos e que vem me chamando a atenção ultimamente é a questão de como manter a saúde em dia em uma atividade regada a longas sessões de degustação, jantares, viagens e agendas intermináveis de eventos. E como essas demandas podem afetar a nossa saúde física e mental. Se você trabalha nesse mercado, sabe do que estou falando. Alguns textos interessantes já tem saído sobre esse assunto. Para quem se interessar, recomendo este artigo de Rebecca Hopkins que teve grande repercussão no meio.
Didu Russo nos brindou com uma aula magna sobre o universo dos vinhos naturais. O que poucas vezes nos damos conta é que passamos quase 10 mil anos fazendo vinhos naturais e agora isso se tornou um assunto. É lógico que antes de mais nada o vinho precisa ser bom. Mas passou a hora de termos uma visão mais crítica de como a produção em escala e a interferência dos químicos vem afetando a forma como apreciamos o produto. Didú nos traz um olhar sempre irreverente e interessante sobre o assunto.
Para finalizar, uma interessantíssima conversa com especialistas de outras áreas e como eles vêem o vinho. Estácio Rodrigues, representou os cervejeiros, Stefano Um, o pessoal do café, e Danilo Nakamura, a coquetelaria. Um bate-papo analisando as semelhanças e diferenças entre áreas correlatadas. Sim, estamos no mesmo barco e temos desafios parecidos. Mas voltei para casa com uma imagem que não me saía da cabeça: que o vinho parece aquele convidado arrogante da festa que fala pra ouvir a própria voz.
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Fotos: Divulgação. Photo by Serge Esteve on Unsplash